Estive analisando o caso da 123 milhas com cuidado e quero "mastigar para você" que nos segue, com todos os "passos em falso" tomados pela empresa, que infelizmente a levou até sua situação atual 🏦💸
1- Os executivos da empresa acreditavam que as passagens aéreas, não iriam subir após o ano de 2020. (Mas como sabemos, eles só se esqueceram de combinar isso com o governo Russo e com a Ucrânia).
2- As empresas aéreas passaram a exigir mais milhas para emitir as mesmas passagens. (Maior necessidade de caixa).
3- A empresa fazia antecipação de recebíveis com taxa de 0,3% am (2021) e passou para 1,5% am (2023). (Uma operação com maior custo financeiro).
Acontece que a 123 Milhas é o reflexo das Fintechs que quebraram ao redor do mundo nos últimos anos. Eles projetaram o negócio de forma escalável (com verba de R$1,2 Bi em MKT/22 e R$ 2,37 Bi em MKT/21), não priorizando margens, ciclo financeiro e por fim, o lucro, que vamos combinar, não é pecado algum. A empresa vendia uma passagem aérea a preços abaixo dos de mercado (Programa Promo 123), "trabalhava" com o dinheiro e comprava esta passagem (com milhas adquiridas de outros clientes) 10 dias antes da sua viagem, correndo o risco de pagar um preço maior ou menor (quase que num cassino). 😬😬😬 Em finanças, isto se chama especulação (Opções de ações), em negócios, se chama “não fazer Hedge” (fazer importação sem "travar" o dólar, apostando que a cotação não vai subir até o dia do pagamento, o que pode ser um suicídio empresarial). Este descompasso de caixa chegou a casa de R$ 2,3 Bi. Financiou a sua operação ineficiente através de juros de recebíveis a 0,3% am, e quando passou para 1,5% am, a água começou subiu perigosamente, até que passou da linha do pescoço. Compraram a concorrente MaxMilhas (A fim de ganhar escala sem sinergia, pratica comum em operadoras de Planos de Saúde, sabemos como elas funcionam tão bem, não é mesmo? 🫤🫤🫤) e reduziram ainda mais o caixa, a água continuava a subir, sufocar era inevitável. Tentaram fazer o que muitas Fintechs em dificuldades fizeram, buscar um investidor/fundo para conter a sangria do caixa (Ofereceram 30% da empresa, algo em trono de R$100 Milhões). Os investidores, que tomaram prejuízo com as Fintechs, agora querem margem/lucro e não faturamento. A água subiu por mais um pouco e agora, a 123 Milhas não tinha mais como respirar. Prejuízo Jan a Jul/2023 de R$ 1,6 Bi, os custos subiram 15x para R$ 825 Mi, perda de desvalorização de ativos (Apostar o que o mercado vai fazer) R$ 818 Mi. Dívida de R$ 2,3 Bi. Patrimônio Líquido, que já estava negativo em Dez/22 em (R$ 5,8 Mi), em Jun/23 já estava negativo em (R$ 1,6 Bi). Por fim, estavam sem saída, cancelaram as passagens e 10 dias depois entraram em RJ (Recuperação Judicial).
Qual a lição aqui? Bom, em qualquer tamanho do seu negócio, priorize a margem, fluxo de caixa operacional positivo, o percentual de endividamento e o ciclo financeiro equilibrado, todo o resto é consequência disso. Quanto mais vender sem margem, mais rápido vai quebrar. Quanto mais financiar a sua operação deficitária com empréstimos, mais rápido vai quebrar. Nunca “aposte” no que o mercado vai fazer (123 Milhas “apostou” que as passagens não iriam subir 😓😓😓), use sempre fatos e dados, ela deveria ter parado com a linha promocional no 2T/21. O Caso 123 Milhas é ruim para os ex-funcionários, para os que ficam e para a confiança do mercado (Teremos outras empresas neste segmento com problemas?). Da mesma forma que crash nas Americanas impactou a área de varejo, a 123 Milhas (Que atende em média 5 Milhões de clientes por ano) vai impactar demais o setor de viagens. Faltam ainda R$ 774 Milhões de passagens que a 123 milhas tem de comprar, agora... Você acha que eles irão? 🤔🤔🤔
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